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Carla Dórea Bartz

A violência de Tábata Amaral contra as mulheres brasileiras


A família pequeno-burguesa ideal: James, Tábata e Samanta, no famoso seriado de TV americano dos anos 1960. Foto: divulgação.

O caso recente envolvendo o ator José de Abreu e a deputada federal de direita Tábata Amaral é apenas mais um triste episódio de um folhetim vazio e superficial que tem como cenário as redes sociais.


É neste folhetim que a pequena burguesia, à direita e à esquerda, constrói, diariamente, castelos no ar disfarçados de realidade.


Ao reivindicar para si a pecha de mulher vítima de discurso violento, Tábata apropriou-se e usou um argumento feminista para satisfazer seus interesses pessoais de reeleição em 2022. Sua reação midiática é propaganda e só.


Ficamos sem saber, no entanto, onde estava com a cabeça o ator da Globo, queridinho dos canais de esquerda no YouTube, ao passar uma bola com tanto mel para a ofendida.


Como acontece nesses casos, o castelo de ar da deputada privativa ganhou ainda a defesa incondicional da turba de espertos, uma reação com cara de torcida organizada para garantir o máximo de impacto na forma de likes e de compartilhamentos.


De concreto, ou seja, de realidade visível e palpável, está o fato de que a deputada privatizada não fica ofendida e nem passa vergonha quando condena as mulheres trabalhadoras brasileiras a uma pobreza terrível e desumana ao votar a favor das pautas econômicas que favorecem um parcela mínima e rica da população, o que lhe garante em troca, entre outros benefícios, espaços generosos na imprensa hegemônica.


Capa do jornal Extra de 21/09/2021: homens colhem ossos podres para comer. Violência é resultado do endosso de deputados como Tabata Amaral às políticas econômicas do governo, em nome de homens velhos e ricos. Foto: Jornal Extra/Twitter.

Atualmente, as mulheres trabalhadoras brasileiras não conseguem ter acesso ao mínimo de proteção social, como direitos trabalhistas, renda para comprar itens básicos de subsistência para si e seus filhos e sistemas de saúde, de apoio à moradia e de aposentadoria que possam evitar uma vida e uma velhice livres de desespero.


Uma das responsáveis por essa lamentável, porém totalmente evitável situação é a deputada privada. A violência de Tábata Amaral contra as mulheres brasileiras é consciente e comprometida com os interesses econômicos da classe dos abastados. No geral, homens brancos e velhos a quem ela se deixa servir e usar de joelhos.


Os interesses são satisfeitos quando legislações, aprovadas por ela e demais colegas de clube privé, autorizam a transferência inesgotável, para esses ricos, da renda produzida por milhões de mulheres trabalhadoras brasileiras, eliminando por completo condições mínimas de sobrevivência e condenando-as e a seus filhos a sofrimentos horríveis.

Tábata e seus colegas privatizados legalizam a exploração. O uso apático de argumentos feministas ajuda a deslegitimar possíveis críticas à sua atuação. O feminismo se torna apenas cortina de fumaça usada para encobrir atitudes concretas que espalham o horror e o desespero.


Isso não é feminismo.


“O feminismo pequeno-burguês é insuficiente para proceder à desmistificação completa da consciência feminina, uma vez que, (...), está compromissado com a ordem social das sociedades de classes (...)”.


Há 50 anos, o feminismo pequeno-burguês é condenado por pesquisadores como Heleieth Saffioti. Foto: divulgação.

A frase acima foi escrita pela pesquisadora Heleieth Saffioti em seu livro A Mulher na Sociedade de Classes, que teve sua primeira edição em 1969.


Florestan Fernandes foi o orientador da pesquisadora, falecida em 2010, que consolidou sua carreira como professora de sociologia na UNESP e dedicou sua vida a pesquisas ligadas à violência contra a mulher brasileira.


No entanto, não surpreende constatar que, passados mais de 50 anos desde a primeira edição do livro, o horizonte político limitado e individualista das Tábatas seja a única alternativa no mercado privativo de deputados personalité.


Tábata vende sua imagem nas redes sociais como se fosse a personagem de um seriado de TV americano dos anos 1960.


Mais triste ainda é perceber que estamos no meio de uma guerra de classes que ainda parece fantasia para muitos que se dizem de esquerda.


Nota-se que muitas mulheres, figuras públicas na política, estão em cima do muro. Elas se dizem de esquerda, mas vivem neste castelo pequeno-burguês feito de ar, aproveitando as hashtags em destaque tanto quanto Tábata.


Condenam o governo, é claro.


Criança ianomami com quadro de subnutrição avançada e malária. Violência é endossada pelo Congresso Nacional, em nome do governo, ao legalizar o usufruto da terra no Brasil como privilégio de poucos homens ricos. Foto: divulgação/twitter.

Contudo, é pouco: não manifestam posturas consistentes, conscientes e concretas contra o desastre social e não colocam a guerra de classes no centro do debate político. No fundo, são cúmplices da violência perpetrada por agentes da direita.


Não há nada mais confortável do que ficar divulgando #forabolsonaro. Essa hashtag afasta o holofote crítico sobre suas atitudes conformistas e coloca na sombra a bolha institucional à qual pertencem e fazem questão de manter intacta. E, mais importante, garante os votos em 2022.

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