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A cooptação da esquerda brasileira pelos aparelhos privados de hegemonia empresariais


Imagem do filme Lion, uma Jornada para Casa, de Garth Davis (2016): para a burguesia a filantropia é a cura para todos os males. Foto: divulgação.

Este texto visa contribuir com o debate sobre a presença de lideranças de esquerda na folha de salários de fundações e institutos empresariais, como, por exemplo, o Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE). Como o próprio nome indica, a missão do instituto é adocicar o horror.


Para tanto, um caminho é entender o IREE a partir da definição de Aparelho Privado de Hegemonia (APH), conforme formulado pelo filósofo marxista italiano Antonio Gramsci (1891-1937).


No Brasil contemporâneo, este conceito tem servido de base para análises sobre a conjuntura nacional de historiadores como Virgínia Fontes, da Universidade Federal Fluminense (UFF).


Em uma apresentação em São Paulo, no final de 2019, a professora usou o termo de Gramsci para mostrar como a burguesia brasileira tem agido para manter sob controle o Estado e os movimentos populares de acordo com seus interesses.


Em um sentido geral, os APHs são organizações da sociedade civil, como escolas, igrejas, sindicatos, partidos, imprensa e outros.


Essas entidades podem tanto representar os interesses da classe trabalhadora, quanto os interesses da classe dominante, como os sindicatos patronais, por exemplo.


“Essa associatividade está sempre ligada às classes sociais”, alerta Fontes. “Embora nem sempre isso apareça claramente”.


“No Brasil, ao longo do século XX, o Estado foi absolutamente aberto para a expansão dos aparelhos associativos burgueses e totalmente truculento e violento com as organizações populares”, conta.

Após a promulgação da constituição de 1988, a burguesia começou a se organizar de maneira um pouco diferente. Foi quando surgiram as fundações empresariais de base filantrópica e sem fins lucrativos e os institutos liberais multissetoriais.


Este conjunto associativo tem como funções “convencer e formar trabalhadores e lideranças dos trabalhadores”.


“Esses aparelhos empresariais tentam conter e formar lideranças populares principalmente em três áreas: educação, racismo e feminismo”, explica Fontes, mostrando a origem de um fenômeno que conhecemos hoje como identitarismo pequeno-burguês e que é amplamente aceito por boa parte da esquerda.


Para ela, essas pautas são sensíveis porque a burguesia reconhece que “é nelas que a luta contra o capital está, portanto é preciso desarmá-las”, explica.


A pesquisadora oferece inúmeros exemplos e concentra-se em um específico, o Movimento Todos pela Educação. “O empresariado no Brasil organizou entidades da sociedade civil para educar o Estado brasileiro e para definir o que deveria ser a política de educação, prevista na constituição, e como esta política deveria ser formulada, avaliada e implementada”, revela.


“Para enfrentar o capital é necessário entender onde está o capital”, diz. “Quando você entra nos sites desses institutos”, continua, “e são milhares de sites dessa sociedade civil empresarial, eles afirmam que estão transformando o mundo”. “Se está dando tão certo, algo já deveria ter mudado, não é?”, questiona, para confirmar: “isso se chama luta de classes”.


No ambiente político brasileiro, a apropriação de pautas populares pelo capital levou a um resultado nefasto. “Significou corroer completamente a estrutura partidária. Os partidos dobraram-se, por um lado, ao financiamento empresarial e, por outro, à pauta empresarial. A devastação democrática que eles produziram é terrível”.


Fica claro que a existência do IREE segue a cartilha da sociedade filantrópica de base burguesa. O instituto compõe uma rede estadunidense, com parceiros como o Global Americans. Não por acaso, visa a formação de lideranças que se dizem de esquerda como Guilherme Boulos, com anuência do PSOL.


Um outro exemplo conhecido é o da deputada Tabata Amaral e da Fundação Lehman. A deputada foi eleita justamente por suas pautas no campo da educação.


O mais grave ainda é a naturalização do debate, como se a cooptação espúria representasse o único caminho possível para a classe trabalhadora, visto que vem camuflada com expressões como “debate democrático e plural”. Não passa de propaganda e de manipulação.


Eles são o resultado de uma estratégia concreta de cooptação a partir desses aparatos hegemônicos “sem fins lucrativos” e “filantrópicos” que visam influenciar o resultado das eleições e o sistema político partidário no Brasil.


É preciso conhecer e expor este sistema de APHs empresariais em sua totalidade.


Para assistir a aula completa da Professora Virgínia Fontes, visite este link do YouTube: https://youtu.be/URXPCbGyKWU


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