Coal Face é um documentário inglês de pouco mais de 11 minutos, dirigido pelo cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti em 1935. Com poucos recursos disponíveis, Cavalcanti realizou um filme que até hoje é um marco na cinematografia britânica.
Com a poesia de W.H. Auden e música de Benjamin Britten, o filme mostra de maneira concisa as condições de trabalho nas minas, as moradias dos trabalhadores, a importância do carvão para o sistema capitalista inglês naquele momento e a desolação da paisagem no período em que a II Guerra Mundial começava na Europa.
O filme compõe um conjunto de obras que ficaram conhecidas como o Movimento do Documentário Britânico, de financiamento estatal, entre os anos de 1926 a 1939. O grupo, liderado pelo também cineasta John Grierson, produziu filmes que visavam levar informação à população inglesa sobre aspectos da vida do país, como no caso a indústria carvoeira, o sistema de transporte ferroviáriou o os Correios.
Cavalcanti chegou ao GPO Film Unit como um nome do cinema francês, onde fez a sua formação. Ligado ao surrealismo, o cineasta acompanhou de perto as transformações que fizeram o cinema evoluir de uma mera distração de massas, no final do século XIX, para uma nova e complexa forma de arte durante os anos 1920, 1930 e 1940.
Ao longo de sua carreira, interrompida no ano de sua morte em 1982, ele produziu e dirigiu filmes na França, Inglaterra, Itália, Suiça, Áustria e Alemanha. Em sua curta passagem pelo Brasil, ajudou na criação dos estúdios Vera Cruz, na década de 1950, quando a burguesia local almejava construir uma indústria nos moldes da americana.
Como documentarista na Inglaterra, recebeu o reconhecimento deste país como pioneiro do cinema britânico, ao lado de nomes como John Grierson e Robert Flaherty.
Para saber um pouco mais
Uma introdução à obra de Cavalcanti pode ser encontrada na dissertação de mestrado Coal Face, um filme de Alberto Cavalcanti, que escrevi para obtenção de título da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
A ideia surgiu durante uma breve passagem pela Inglaterra, entre 1994 e 1995, quando tive a oportunidade de participar de um curso de Introdução ao Cinema como Arte, na Universidade de Londres. Para minha surpresa, na aula sobre cinema documentário, as professoras usaram Cavalcanti como o principal exemplo. Até hoje, lembro-me de minha surpresa: "The Brazilian?", perguntei. E elas: "Yes".
Após o fim do mestrado, a tese ficou adormecida durante uma década. Em 2014, encaminhei o texto para publicação no banco de teses da USP, um grande repositório online, onde são armazenadas, como arquivos digitais em .pdf, milhares de teses e de dissertações, resultado da pujança de pesquisa da nossa mais importante e melhor universidade pública.
Para minha surpresa, após sete anos publicada, a tese ganhou vida. É possível acompanhar o número de visitantes e de downloads que o texto conseguiu. Até a data de hoje: 1.774 visitas e 1159 downloads, algo que seria difícil de mensurar se tivéssemos somente uma cópia impressa esquecida em uma prateleira da biblioteca física.
É notável o interesse pelo cineasta e por sua obra, que ainda no Brasil é pouco estudada. Minha dissertação reflete muito meu momento acadêmico. Se fosse hoje, o texto seria completamente diferente, principalmente nas questões histórica e materialista. No entanto, para quem procura uma introdução ao assunto, ela tem sua função.
Para analisar como foi a passagem do cineasta pelo GPO Film Unit, a dissertação foi dividida em duas partes. A primeira foca as origens de Cavalcanti no Brasil e sua trajetória até a França. Descreve o início de sua carreira no cinema e apresenta o filme mais importante que dirigiu em Paris, Rien que Les Heures (1926). A seguir, conta os motivos que o levaram a deixar a França e aceitar o convite de John Grierson para unir-se ao GPO Film Unit.
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